terça-feira, 9 de junho de 2015

Jardins japoneses - Naturais, Misticos e Humanos

        Os jardins japoneses refletem a atemporalidade do trabalho e do design do paisagismo japonês conquistando cada vez mais o público ocidental. Com uma visão oposta à dos ocidentais somos levados a crer que a cultura de uma sociedade pode ser avaliada por seus projetos de jardim. Os japoneses acreditam que os seres humanos fazem parte da natureza e devem viver em harmonia com ela e os ocidentais acreditam ser superiores a natureza. Um exemplo dessa diferença é o projeto arquitetônico, onde a casa faz parte do jardim, e não o contrário. É de extrema importância que o homem e a natureza saibam viver em harmonia, e o jardim apresenta esse elemento.

Fonte: http://plantas-ornamentais.com/wp-content/uploads/2009/10/as2.jpg
A estética e o design dos jardins japoneses são preservados desde sua origem no século VIII a.C. até os dias atuais. Inicialmente, os jardins possuíam influências dos chineses, devido ao xintoísmo, religião comum aos dois países. Durante o período Nara (645-794), a presença de água e cascalhos era primordial para simbolizar o local de culto aos deuses, porém este tipo de jardim não existe mais, estando presente apenas em pinturas antigas. No período Heian, posterior ao Nara, a água tornou-se fundamental para a estrutura do jardim, sendo rodeado por elementos religiosos e culturais, sendo considerado por muitos um portal para lugares reais e míticos. Neste período, a nobreza construía estes jardins com fins funcionais e ostensivos. Foi neste período que se tem o registro mais antigo sobre jardinagem, o Sakuteiki, contendo técnicas de jardinagem para o deleite da aristocracia.
Em períodos posteriores ao Heian, como o Kamakura e Edo, houve o surgimento e ascensão do jardim Zen, jardim mais comum e conhecido pelo mundo. Sobre a influência do Budismo e da ascensão dos Samurais, o jardim era de um local para meditação. Inicialmente, durante o início do Período Kamakura, os jardins ainda apresentavam muitas características construtivas do Período Heian, no entanto, ao longo do tempo, os jardins começaram a refletir diversas mudanças, impulsionadas pelo pensamento Zen.
Fonte: https://airesbuenosblog.files.wordpress.com/2009/01/jardim-japones-260508.jpg
Este jardim inclui um grande lago situado no sopé de uma colina consistente com o estilo das Cortes Heian. No entanto, os afloramentos de rochas ao redor da lagoa são decididamente mais verticais do que seus antecessores que buscavam a horizontalidade. Em consonância com o pensamento Zen, a partir do século XIV, o número de materiais utilizados diminuiria em comparação aos extravagantes jardins de prazer secular criados pela nobreza da Era Heian. O objetivo principal desses jardins Zen era o de auxiliar à meditação. Já no período Edo houve um aumento da tendência de envolver os participantes no jardim, por meio de técnicas visuais, onde o observador era levado a visualizar determinada paisagem de acordo com sua localização no jardim.
Sendo uma tradição muito estimada e preservada nas casas, nos parques, em templos e nos velhos castelos do Japão ajudaram a moldar a era feudal e também aspectos do cotidiano como a cerimônia do chá. Nos últimos séculos podemos encontra alguns tipos diferentes de jardins: jardim de passeio, jardim de chá, jardim de pátio, jardim de ilha e lago e jardim seco.  
Fonte: http://construindo.org/wp-content/uploads/2013/12/jardim-japones-3.jpg
Entre os elementos que podem aparecer estão o Sakura (espécie de cerejeira, que simboliza a felicidade), Momiji-Gari (Acer Vermelho ou Acer palmatum, espécie de carvalho que simboliza melancolia), bambu (Bambusa multiplex, simboliza o dom humano de se moldar a qualquer situação), pinheiros, salgueiro-chorão, azaleias, juníperos, Chamaecyparis obtusa, Diospyros kaki, Pinus thumbergii, Prunus mume, Camellia japônica, Magnolia stellata, Phyllostachis nigra, Iris ensata, etc.
A parte mística pode ser atribuída as lanternas de pedra que iluminam os jardins, elas auxiliam na concentração e na iluminação da mente. O elemento da água é representado pelo lago e pelas carpas simbolizando a substância vital para a existência. Os animais simbolizam a fecundidade e o progresso. O Taiko Bashi (ponte) simboliza a ascensão a um estágio espiritual e emocional mais elevado. As cascatas são o elemento central do jardim, onde as rochas que a formam simbolizam a paternidade (a rocha posicionada verticalmente) e a maternidade (a rocha posicionada horizontalmente e da qual emana água). Os elementos do jardim buscam representar cinco elementos: o Vazio, a União, a Impermanência, a Auto-expressão e o Respeito.
Outro elemento que muito influencia a construção de um jardim japonês é a geomancia, o principio dos opostos complementares, o Yin (negativo e passivo) e o Yang (positivo e ativo), que são representados por pontos cardiais, cores e animais guardiões. No equilíbrio os cinco elementos estão em harmonia, criando uma corrente: a madeira alimenta o fogo, o fogo cria a terra, a terra cria o metal, o metal pode fluir como a agua, a agua alimenta a madeira.
Fonte: http://www.jardinaria.com.br/blog/wp-content/uploads/2010/03/japanese-style-gardens-1.jpg
Apesar de a maioria dos estudos sobre jardins japoneses seja direcionada à restauração de antigos monumentos e pinturas, Oishi (2012) demonstrou como os elementos presentes nos jardins orientais estão de fato em harmonia com a natureza e influenciam na diversidade do local. Em seu estudo procurou verificar a influência da estrutura de um jardim japonês típico na biodiversidade de espécies de plantas briófitas. Neste estudo, Oishi observou jardins japoneses da cidade de Kanazawa e neles pode perceber que o fato dos jardins possuírem lagos e rochas próximas a ele permite o crescimento de briófitas, aumentando, assim, sua biodiversidade.


Autores: Aline Campelo Mendes, Ana Laura Furlan Blanco


Bibliografia utilizada:





  

A perfeição dos Jardins Franceses: simetria e formalidade com a arte dos jardins

          O jardim francês (em francês: jardin à la française) surgiu com o estilo renascentista do século XVII, época em que os jardins passaram a assumir o papel de complemento da arquitetura monumental. Este estilo era acompanhado com acessórios como chafarizes, lagos, fontes, estátuas e pérgolas em sua estrutura. Segundo a explicação da paisagista Erica Ochoa, "Uma característica fundamental do jardim francês é a topiaria, que é a poda escultural das vegetações. As linhas retas, a simetria, a perspectiva e a organização também são alguns pontos fundamentais desse estilo". Assim, a vegetação seria uma extensão das grandes construções. 

Exemplos de jardim franceses, sendo o primeiro do Palácio de Versalhes. É interessante observar a grandiosidade, as formas geométricas, a simetria e o cuidado em manter a formalidade desses jardins. A fim de visualizar melhor os desenhos desses jardins, recomenda-se determinada distância ou um ponto de vista superior, como mostrado nas imagens. Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/a/a9/ Villandry_Gardens.jpg e  http://t2.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcRiZNgIGurgWnwO7XzS4fPVOUAitB-xfnxSWUs70PCHfIJr3vmj



           Como dito, a topiaria é a arte de adornar os jardins conferindo a grupos de plantas, por meio de podas e cortes, configurações diversas; é a alma de um jardim francês clássico. Ademais, esse tipo de jardim utiliza poucas pedras. Cercas vivas e arbustos compactos, todos muito bem podados, ornam os jardins franceses, respeitando a rigidez formal. Esse é um dos principais motivos pelo qual a manutenção desse estilo de jardinagem é tão onerosa: as plantas requerem podas constantes para manter a forma concisa perfeita. Assim, as plantas preferidas são aquelas com crescimento lento.
            No restante da vegetação do jardim francês, temos uma variedade de flores. Roseiras, tulipas, azaléias, amor-perfeito e ciprestes quebram o ar bucólico e sóbrio, dando cor ao ambiente. Entretanto, as flores devem ser utilizadas em espaços bem demarcados, como canteiros delimitados, vasos ou jardineiras, para respeitar a forma geométrica e a simetria. A decoração do ambiente fica por conta de bancos, fontes, pergolados (espécie de galerias cobertas de barrotes espacejados, assentados em pilares, geralmente guarnecidas de trepadeiras), esculturas, luminárias e caramanchões (estruturas leves construídas em parques ou jardins, geralmente de madeira, que se pode cobrir de vegetação e usar para descanso ou recreação), todos mantendo a ideia de rigidez e forma perfeita.


  
Plantação de roseiras em um jardim francês.
 Fonte: 
http://www.rosegathering.com/photos/lhay/lhaypath.jpg

 
   O estilo francês de jardinagem também se inspirava nos jardins medievais, os quais utilizavam canteiros com flores e ervas medicinais, sendo que também havia a horta que lhes concedia abastecimento. Mas com o passar do tempo, novas ideias foram sendo introduzidas por arquitetos italianos que trabalhavam na corte francesa. Com isso, pode-se dizer que os jardins franceses tiveram características semelhantes aos jardins italianos, como por exemplo, muitas estátuas e fontes monumentais, além de corredeiras de água e galerias. Mas é importante relembrar, que no estilo francês, a rígida distribuição axial, a simetria, a perspectiva, o uso de topiaria e a sensação de grandiosidade são pontos-chave.
            Os jardins franceses são considerados os mais rígidos e formais, já que as formas geométricas e a simetria o compõem. Tudo é pensado seguindo uma planta baixa, respeitando caminhos largos e bem definidos, sem desníveis. Os espaços para trilhas, vegetação e áreas aquáticas deveriam respeitar esta harmonia, distribuindo os elementos e tornando o jardim extremamente organizado. Os principais jardins foram construídos pelo famoso arquiteto/paisagista de Luiz XIV, André Le Notrê. Suas obras mais marcantes foram o jardim do Palácio de Versalhes e de Vaux-le-Vicompte.
         
Jardim francês da ESALQ.
Fonte: 
: http://fotoeahistoria.blogspot.com.br/2013/03/jardim-frances-na-esalq.html
 No Brasil, um dos jardins franceses mais próximos é o da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ), que inaugurou a revitalização do jardim francês como comemoração aos 105 anos da Escola e o centenário do Prédio Central e do parque. O jardim foi construído em 1943, juntamente com uma casa inspirada na Fazendo tara, do filme E O Vento Levou. O jardim em questão leva as mesmas características do jardim de Versalhes, como a simetria, monumentos e estátuas, além de terem sido adicionados pergolado e uma fonte. 
        Dessa maneira, apesar de os jardins franceses terem tido algumas alterações com o passar dos anos, suas características básicas permanecem, como a grama meticulosamente cuidada, formas geométricas, flores igualmente distribuídas, além de estátuas e esculturas valiosas. Assim, se você pretende ter um jardim francês em casa, mas acha que ele só é possível em grandes espaços, saiba que um quintal bem planejado pode tornar-se um mini jardim do Palácio de Versalhes.


Jardins franceses no quintal de casas. São necessários bom planejamento e manutenção constante. Entretanto, os resultados visuais são incríveis.
Fonte: http://www.forbes.com/sites/houzz/2013/09/23/7-design-basics-to-french-garden-style/


Autores: Marino da Motta Nanzer, Rafael Farina, Silvia Sayuri Mandai e Vanessa Thomé.

Bibliografia utilizada:
  • A diferença entre jardim francês e jardim inglês. M de mulher. Disponível em: <http://mdemulher.abril.com.br/familia/m-de-mulher/a-diferenca-entre-jardim-frances-e-jardim-ingles> Acessado em: 08/06/2015.
  • Barcelos, D.C. Uma viagme pela história dos jardins. Jardim de Flores: paisagismo. Disponível em: <http://www.jardimdeflores.com.br/paisagismo/a05daniel.htm>. Acessado em: 05/06/2015.
  • Delphino, M. 2014. O charme de um jardim francês na ESALQ. Espaço Aberto. Disponível em: <http://www.usp.br/espacoaberto/arquivo/2006/espaco69jul/0conheca.htm>. Acessado em: 06/06/2015.
  • Dicionário de Português licenciado para Oxford University Press Copyright © 2012 Editora Objetiva
  • Franceses Jardim: Características e modelos. Flor do Jardins. Disponível em: <http://flordojardins.topartigos.com/franceses-jardim-caracteristicas-e-modelos.html>. Acessado em: 07/06/2015.
  • Jardim Francês: Como ter o seu. Playgrama. Disponível em <http://www.playgrama.com.br/blog/arquitetura-e-urbanismo/jardim-frances-como-ter-o-seu/>. Acessado em: 08/06/2015.
  • Lipanovich, M. 2013. 7 Basics To Designing A French Style Garden. Forbes. Disponível em: <http://www.forbes.com/sites/houzz/2013/09/23/7-design-basics-to-french-garden-style/> Acessado em: 07/06/2015.


terça-feira, 2 de junho de 2015

As cores naturais do Brasil

As tintas naturais parecem ter surgido por volta de 30.000 a 8.000 a.C, quando eram utilizadas nas pinturas pré-históricas em cavernas. São compostas por pigmentos e aglutinantes, apresentam opacidade ou transparência e podem ser produzidas a partir de terras coloridas, pó de rochas, materiais vegetais ou animais.
Por volta de 4.000 anos, alguns corantes já existiam, tais como o azul índigo ou anil (Indigofera tinctoria), o vermelho (Rubia tintorium), violeta (moluscos Murex trunculis e Murex brandaris), amarelo (Curcuma longa e Crocus sativus), azul ultramar (pedra lápiz lázuli). E, a partir do século XV, com a chegada dos europeus à América e à Índia, novos pigmentos foram descobertos, como o carmim (a partir do inseto cochonilha).

Nas sociedades indígenas brasileiras, a pintura corporal possui grande importância em diferentes aspectos, e essa prática é utilizada em vários contextos, como expressão de beleza, indicação de preparação para guerra ou como forma de aplacar a ira dos demônios. Também protege o corpo dos raios solares e de picadas de insetos. Além disso, possui um aspecto social de indicação de hierarquia: o padrão e o local da pintura revelam o status daquele indivíduo na sociedade. 
Arte indígena retratada em crianças.
Fonte: http://www.museudoindio.org.br/wp-content/uploads/2014/11/
indios_altamira_pintados_criancas.jpg
Os corantes naturais podem ser retirados de diversas partes da planta (folhas, flores, sementes, raízes). Como exemplo de planta nativa, o Pau-Brasil (Caesalpinia echinata), conhecido pelos tupis como ibirapitanga (“madeira ou árvore vermelha”), desde a colonização do Brasil, é considerado um produto de grande valor. O lenho da planta encerra o corante conhecido como brasilina, que ao ser extraído, passava a ser, por processos de auto-oxidação, a brasileína, o corante utilizado. Os colonizadores exploravam a planta e utilizavam o corante para tingir tecidos e fabricar tinta de escrever. Antes da descoberta do Brasil, na Idade Média, o corante já era conhecido e usado, originário de Caesalpinia sappan L. das Índias Orientais. De 1500 em diante, o Brasil apossou-se do mercado até saturá-lo.
O urucum (Bixa orellana), que significa “vermelho”, em tupi, é utilizado em recém-nascidos e em meninas (na chegada à puberdade), e outras ocasiões (casamentos, rituais antropofágicos e funerários, sacrifícios e cerimônias de exumação). Além disso, era considerado afrodisíaco e antídoto para veneno da mandioca. A tintura era feita com as sementes, cujo principal corante é o norcarotenóide bixina. A bixina é inócua e insípida, e bastante utilizada para colorir alimentos, como manteiga, queijo e massas. O urucum também é uma base para o corante denominado colorau. O fato de a bixina ser lipossolúvel permitiu aos indígenas preparar uma pasta do arilo vermelho, presente nas sementes, veiculado em óleo, fácil de esfregar na pele e que trouxe admiração aos primeiros europeus no Brasil, ao observar os costumes dos indígenas. Em sua carta ao rei D. Manoel I, Pero Vaz de Caminha dizia: "Traziam alguns deles ouriços verdes (se referia ao urucum), de árvores, que na cor, quase queriam parecer castanheiros; apenas eram mais e mais pequenos. E os mesmos eram cheios de grãos vermelhos, pequenos, que, esmagados entre os dedos, faziam tintura muito vermelha, da que eles andavam tintos; e quando se mais molhavam mais vermelhos ficavam". O urucum é colhido nos meses de maio e junho. As sementes são raladas em peneiras finas e fervidas em água para formar uma pasta. Com esta pasta são feitas bolas que são envolvidas em folhas, e guardadas durante todo o ano para as cerimônias de tatuagem. A tinta do urucum também é usada para tingir os cabelos, e na confecção de máscaras faciais.


Tabela 1. Relação de plantas nativas que podem ser utilizadas para a retirada de corantes, e a tonalidade do corante correspondente.
Plantas
Tonalidade do corante
Plantas
Tonalidade do corante
Jatobá (Hymenaea coubarilL)
Marrom alaranjado
Indigofera tinctoria, Fabaceae
Azul índigo ou anil

Carajuru ( Arrabidaea chica (HBK) Bur., Bignoneaceae)

Vermelho-escuro a vermelho-tijolo
Raiz-de-são-joão ou espinho de judeu (Berberis laurina Thunb, Berberidaceae)

Amarelado
Caroço de abacate (Persea sp. , Lauraceae)

Alaranjado
Jenipapo (Genipa americana L., Rubiaceae)

Preta
Folha de erva-mate ( Ilex paraguariensis A. St. - Hil, Aquifoleaceae)

Verde-musgo e cinza
Pau-brasil (Caesalpinia echinata - Leguminosae)

Avermelhado
Raiz de Açafrão-do-campo ou do mato (Escobedia curialis (Vell.) Penn., Scrophulariaceae.)

Amarelado
Sementes de Urucum (Bixa orellana, Bixaceae)

Avermelhado


Na tribo Xikrin, um subgrupo Kayapó, as mulheres pintam-se umas às outras e aos filhos com mistura de jenipapo (Genipa americana L., Rubiaceae) mascado, carvão e água. A seiva do fruto maduro e fresco do jenipapo produz tatuagens de cor preta, graças a um iridóide conhecido como genipina. A seiva é incolor em si, e produz a cor preta após reagir com proteínas da pele. Segundo relatos de Hans Staden sobre tupinambás no litoral de São Paulo, a pintura durava por, no mínimo, nove dias, mesmo quando eles se lavavam muitas vezes.
Naturalmente, quase todos os pigmentos de origem vegetal perderam hoje sua importância em face do emprego generalizado dos corantes sintéticos. Poucos conservam-se em uso para finalidades especiais. É o caso da hematoxilina, utilizada na coloração de preparados microscópicos e em certos casos no tingimento de tecidos; do tornassol e da cúrcuma, como indicadores nos laboratórios de química, e da última ainda para corar alimentos, ao lado da bixina, tirada do urucum.


Autores: Juliana Toshie Takata, Maiara Albanez Pereira, Rafaella Eduarda Volpi, Renan Lopes Rodrigues.


Bibliografia utilizada:
  • Behrens, Maria Dutra, Tellis, Carla J, Chagas, Maria do Socorro. Arrabidaea chica (Humb. & Bonpl.) B. Verlot (Bignoniaceae). Revista Fitos:7, nº4, 2012.
  • Bortolato, Ricardo. 2014. História e Técnica das Tintas Naturais Parte 01. Disponível em <http://permaculturabr.ning.com/group/biocasa/forum/topics/historia-e-tecnica-das-tintas-naturais-parte-01>. Acessado em maio de 2015.
  • Castro, Leonardo. Índios no Brasil: história, sociedade e cultura. Disponível em <http://novahistorianet.blogspot.com.br/2009/01/ndios-no-brasil-histria-sociedade-e.html e http://www.indioeduca.org/?p=1269> . Acessado maio de 2015.
  • Ferreira, Eber Lopes. Tingimento vegetal: teoria e prática sobre tingimentos com corantes naturais. Copyright Comissão Pró-Indio - SP. 1º edição.
  • Junqueira, N.T.V., et al. Frutíferas nativas do Cerrado: O extrativismo e a busca pela domesticação. XXII Congresso Brasileiro de Fruticultura. Bento Gonçalves - RS. 2012.
  • Picanço. Raimundo. 2012. Tintas naturais colorem artesanato na Amazônia. Disponível em <http://www.portalamazonia.com.br/editoria/meio-ambiente/tintas-naturais-colorem-artesanato-e-geram-renda-para-comunidades-no-am/>. Acessado     maio de 2015
  • Pinto, Angelo C. Corantes naturais e Culturas indígenas. Disponível em <http://www.i-flora.iq.ufrj.br/hist_interessantes/corantes.pdf>. Acessado em maio de 2015.
  • Rizzini, Carlos Toledo. Botânica econômica brasileira. 1976.



  

Ácidos graxos e o metabolismo humano

        Os ácidos graxos fornecem energia e são parte integrante das membranas celulares. Consistem em cadeias que contêm elementos como o carbono (C), o hidrogênio (H) e o oxigênio (O), possuindo em uma extremidade um grupo carboxila (- OOH). Os elementos em que os átomos de carbono se ligam a todos os átomos de hidrogênio são designados ácidos saturados (AGS) e não há dupla ligação entre os átomos de carbono. Os ácidos graxos que contêm apenas uma dupla ligação são os ácidos graxos monoinsaturados (AGMI), e os ácidos graxos poliinsaturados (AGPI) referem-se aos que têm mais de uma ligação dupla.
Ácidos graxos essenciais (AGE) são poliinsaturados de cadeia longa que exercem funções vitais no organismo, contudo o corpo humano não consegue produzí-los. Para isso, são necessários outros ácidos graxos precursores, de forma que a única maneira de obtê-los é na alimentação. Um exemplo é o ácido graxo araquidônio, que possui importância estrutural, presente nos fosfolipídeos do sangue, membrana celular, fígado, cérebro e como componente predominante na composição em ácidos graxos das glândulas supra-renais. (Vianni, R., Braz-Filho, R., 1996). O ácido araquidônio é sintetizado em nosso organismo, porém necessita de um precursor, o ácido linoléico (família ômega-6).
Fonte: desconhecida.
Os ácidos graxos mais abundantes na natureza são os ácidos palmítico, esteárico, oléico e linoléico. Os ácidos palmíticos e esteáricos são ácidos graxos saturados. O primeiro ocorre praticamente em todos os óleos e gorduras de plantas e animais terrestres e aquáticos. As principais fontes para alimentação humana são o óleo de dendê, banha, sebo, gordura de cacau e gordura de leite. Já o ácido graxo esteárico é amplamente distribuído na natureza, mas a maioria dos óleos vegetais fornece este ácido em proporções pequenas, as fontes mais importantes são de origem animal (Vianni, R., Braz-Filho, R., 1996).
O ácido oléico está inserido no grupo dos ácidos graxos monoinsaturados ômega-9. Está presente no azeite de oliva, óleo de amendoim, de farelo de arroz, azeite de dendê, gordura de cacau, castanha de caju, entre outros. Já o ácido linoléico é um ácido graxo insaturado da família ômega-6, presente em sementes produzidas por plantas como o açafrão, girassol, soja e milho. Atualmente, os únicos alimentos que aparecem como fontes expressivas de ácidos graxos da família ômega-3 são os peixes, crustáceos e outras matérias primas aquáticas (Vianni, R., Braz-Filho, R., 1996).
            Em termos gerais, os ácidos graxos essenciais estão relacionados com efeitos benéficos para a saúde humana. Estes auxiliam na absorção de nutrientes essenciais e na expulsão de resíduos prejudiciais, devido ao papel que desempenham nas membranas celulares. Apoiam os sistemas cardiovascular, reprodutivo, imunológico e nervoso, sendo importantes para o bom crescimento das crianças, particularmente para o desenvolvimento neural e maturação dos sistemas sensoriais. Além disso, aumentam a produção de prostaglandinas, que são lípidos bioativos derivados do metabolismo da membrana dos AGPIs, que regulam determinadas funções corporais, como é o caso da frequência cardíaca, pressão sanguínea, coagulação sanguínea, fertilidade, concepção e desempenham papéis importantes em vários processos biológicos, incluindo a divisão celular, cicatrização de feridas e resposta imune, através da regulação da inflamação e estímulo do organismo a combater infecções. A sua alteração, em termos de produção, está associada a algumas doenças, tais como inflamação aguda e crônica, como o cancro do cólon.
            Tanto os ácidos graxos da família ômega-6 e ômega-3 são bioprecursores de substâncias conhecidas como eicoscenóides. Tais substâncias são muito importantes, pois possuem um controle em diversos sistemas do nosso organismo, atuando como um mediador inflamatório, afetando o sistema cardiovascular e pressão arterial e controle na síntese de colesterol.   
Atualmente, acredita-se em um equilíbrio entre o consumo de ácidos graxos dessa família, sendo que o maior consumo de ômega-3 seria mais benéfico devido a sua ação de diminuir o colesterol “ruim” (LDL - Lipoproteína de baixa densidade) e aumentar o colesterol “bom” (HDL - lipoproteína de alta densidade) e por possuir efeito anti-inflamatório, ao contrário do ômega-6, e diminuir a pressão arterial. O ômega-6 deve ser consumido em baixas quantidades, pois o seu excesso está relacionado a doenças.
Existem diversas doenças ligadas aos ácidos graxos. Uma dieta com alto teor de ácidos graxos saturados tem sido relacionada ao aumento de doenças cardiovasculares, diabetes mellitus, câncer e doenças crônicas. Há estudos que indicam haver uma associação positiva entre a ingestão de gordura saturada e a prevalência de doenças cardíacas, assim como uma associação negativa com a ingestão de gorduras insaturadas.
Há também os distúrbios da beta-oxidação dos ácidos graxos (DOAG), que são deficiências genéticas metabólicas nas quais o organismo é incapaz de oxidar os ácidos graxos para produzir energia, devido à ausência ou ao mau funcionamento de algumas enzimas. A gordura é oxidada quando a glicose, que é a principal fonte de energia para o organismo, se esgota. Os portadores de algum desses distúrbios não têm essa disponibilidade prontamente, podendo apresentara hipoglicemia não cetótica, cardiomiopatia e miopatia.


Autores: Laura Braun Cano, Luiza Dias Ferreira Leite Mendonça, Olívia Ambrozini Pereira e Wendy Ishimoto.



Bibliografia utilizada:
  • DLE Medicina Laboratorial -  http://dle.com.br/links-relacionados/disturbios-da-beta-oxidacao-dos-acidos-graxos - acesso em 27/05/2015.
  • GUINÉ, R.P.F., HENRIQUES, F. O papel dos ácidos gordos na nutrição humana e desenvolvimentos sobre o modo como influenciam a saúde. Revista Millenium, 40: 7-21. Junho de 2011
  • LIMA, Flávia Emília Leite de et al . Ácidos graxos e doenças cardiovasculares: uma revisão. Rev. Nutr.,  Campinas ,  v. 13, n. 2, p. 73-80, Aug.  2000
  • VIANNI R.; BRAZ-FILHO R. 1996. Ácidos graxos naturais: importância e ocorrência em alimentos. Química Nova, 19: 400-407.

terça-feira, 26 de maio de 2015

O sabor da expansão marítima

Fonte desconhecida
Açafrão, baunilha, pimenta, orégano, canela, gengibre. Todas estas plantas são conhecidas na gastronomia como imprescindíveis, especialmente na hora de temperar. Especiarias são temperos e condimentos de origem vegetal que possuem sabor e aroma acentuados devido à presença de óleos essenciais - compostos hidrofóbicos e voláteis obtidos através de métodos de separação, podendo conter centenas de substâncias químicas. As especiarias possuem grande utilização na culinária, na preparação de óleos, cosméticos, incensos e medicamentos. Existem espécies consideradas como especiarias em todos os continentes, mas a partir do início das Cruzadas, os europeus desenvolveram um gosto pelo consumo de especiarias vindas da Ásia, o que levou a várias estratégias que permitiram o comércio destes produtos.

O comércio de especiarias existe desde a antiguidade, e teve um importante destaque no surgimento das Grandes Navegações, durante os séculos XV e XVI. A partir das Cruzadas na Idade Média houve um grande interesse no comércio de especiarias na Europa, devido ao seu uso na culinária e na medicina. Desenvolveu-se, em particular, o consumo de especiarias oriundas das regiões tropicais, principalmente do sul e sudeste asiático, uma vez que o clima da Europa não permitia o cultivo de muitas variedades. As mais procuradas nesta época eram a pimenta-do-reino, o cravo, a canela e a noz-moscada. Devido à dificuldade em obtê-las, as especiarias passaram a ser consideradas produtos de luxo. Era comum o seu uso para pagamento de impostos, dívidas, acordos e subornos.
Com o surgimento e crescimento da burguesia houve um aumento da demanda desses produtos. Para atender a essa demanda, ampliou-se o comércio entre o Ocidente e o Oriente através de várias rotas terrestres e marítimas, que uniam não apenas a Europa internamente, mas esta e a China e a Índia. No século XV, os comerciantes de Gênova e Veneza detinham o monopólio do comércio destas especiarias. Estas eram então levadas para Europa através da rota do Mar Mediterrâneo, dominada pelos comerciantes italianos. As especiarias eram compradas secas e tinham longa durabilidade e resistência a pragas, portanto suportavam meses de viagem sem perder sua qualidade aromática e medicinal.
Após a Tomada de Constantinopla, em 1453, o comércio de especiarias ficou mais difícil, uma vez que a rota dos mercadores cristãos foi bloqueada a partir do domínio turco. Foi nessa época que se iniciou o declínio do monopólio italiano. Para resolver o problema, os países ibéricos como Portugal e Espanha, procuraram uma rota alternativa para chegar às especiarias. Portugal explorou a rota oriental, contornando a África, e obteve muito sucesso, se tornando uma potência econômica da época. A Espanha, por sua vez, explorou a rota ocidental, e acabou chegando à América. Com a colonização do território americano, os europeus introduziram nessas regiões o plantio de especiarias, barateando o custo. Desta forma, o comércio de especiarias pode ser considerado como um dos grandes propulsores da expansão marítima e das grandes navegações.

Atualmente, as especiarias são ainda amplamente utilizadas na culinária como temperos, e nas últimas décadas descobriu-se que estes produtos podem conter propriedades medicinais, por exemplo, cumprindo a função de antibióticos, como é o caso do coentro, do cominho e do anis. Outra função que é atribuída a várias especiarias é a propriedade antioxidante, bem como a prevenção ao câncer no caso de certas espécies.  


Autores: Aline Maria Lucchetta, Enrico Cerioni Spiropulos Gonçalves e Rodrigo Guedes Hakime


Bibliografia utilizada:

·         Herbal Medicine: Biomolecular and Clinical Aspects. Caefer CM, Milner JA. 2nd Edition. Chapter 17: Herbs and Spices in Cancer Prevention and Treatment. 2011.
·         Bracht F, Conceição GC, Santos CFM. A América conquista o mundo: uma história da disseminação das especiarias americanas a partir das viagens marítimas do século XVI. Revista Brasileira de Pesquisa em Alimentos. 2011.
·         Singh G, Kapoor IPS, Pandey SK, Singh UK, Singh RK. Studies on essential oils: Part 10; Antibacterial activity of volatile oils of some spices. Phytotherapy Research. 2002.

Óleos essenciais, Cleópatra e a história de um assassino

Fonte: Google Imagens
Os óleos essenciais constituem os elementos voláteis contidos em vários órgãos das plantas e assim são denominados devido à natureza lipofílica que apresentam, sendo, entretanto, quimicamente diferentes da composição glicerídica dos verdadeiros óleos e gorduras. Estão associados a várias funções necessárias à sobrevivência do vegetal em seu ecossistema, exercendo papel fundamental na defesa contra microorganismos e predadores, e também na atração de insetos e outros agentes fecundadores. Em sua maioria, são constituídos de substâncias terpênicas e eventualmente de fenilpropanóides, acrescidos de moléculas menores, como álcoois, ésteres, aldeídos e cetonas de cadeia curta. O perfil terpênico apresenta normalmente substâncias com moléculas de dez e  quinze carbonos (monoterpenos e sesquiterpenos), mas, dependendo do método de extração e da composição da planta, terpenos menos voláteis podem aparecer na composição do óleo essencial. 
Na prática popular, os óleos essenciais possuem uma larga tradição de uso, desde a utilização para acentuar o aroma ou gosto dos alimentos até o uso como agentes medicinais, que é conhecido desde a remota antiguidade.
Há registros pictóricos de seis mil anos atrás, entre os egípcios, de práticas religiosas associadas à cura de males, às unções da realeza, e à busca de bem-estar físico, através dos aromas obtidos de partes específicas de certos vegetais, como resinas, folhas, flores, sementes, etc. O Egito parece ter sido o berço da destilação, com óleos essenciais usados como perfumes. Usavam os óleos no processo de embalsamento dos cadáveres, conheciam bem a cosmetologia e os tratamentos com ervas.  Os sacerdotes fabricavam pomadas e “ungentos” medicinais, tendo grande domínio das técnicas de extração dos compostos vegetais por destilação e infusão a quente, conheciam as propriedades terapêuticas de certas drogas e tinham noções básicas de farmacodinâmica. O óleo essencial de mirra, por exemplo, era usado como anti-inflamatório e as fraturas ósseas eram tratadas com misturas de plantas e óleos. Na tumba de Tutancâmon (1550 – 1295 a. C.) foram encontrados óleos aromáticos de cedro, coentro, mirra, olíbano e zimbro, em aromatizadores, bandagens e envasados em frascos. Cleópatra (69 – 30 a. C.) eternizou a arte da perfumaria sedutora. Usava um perfume especial feito com óleo essencial de flores de henna, açafrão, menta e zimbro.
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Há relatos de que os indus na antiguidade já tinham conhecimento dos processos de extração dos óleos essenciais e dos produtos destilados. Provavelmente, faziam extratos alcóolicos e não óleos essenciais puros, empregados tanto como perfume quanto em cerimônias religiosas, além do uso terapêutico.
Os gregos teriam passado seu conhecimento sobre os óleos aromáticos aos romanos, que se tornariam grandes conhecedores de perfumes. Na Babilônia (1500 a. C.), o uso de óleos essenciais, principalmente cedro fazia parte da rotina de cuidados com a saúde. As tabuinhas babilônicas citam 250 ervas e óleos com propriedades medicinais que poderiam ser misturados na forma de cataplasma, infusões, inalações e linimentos.
As substâncias aromáticas também já eram populares nas antigas China e Índia, centenas de anos antes da era cristã, quando eram incorporados em incenso, poções e vários tipos de acessórios, usados diretamente sobre o corpo.
Hipócrates (460 a. C.) tornou-se o primeiro a considerar a massagem com óleos essenciais uma terapia, difundindo-a entre a comunidade científica. Teofrasto (372 – 287 a. C.) pode ser considerado pioneiro em suas pesquisas sobre óleos essenciais e seus efeitos. Entre seus trabalhos está o guia relativo aos odores em que analisa os efeitos distintos dos diversos aromas sobre o pensamento, os sentimentos e a saúde. Mas foi Pedânio Dioscórides (90 – 40 a. C.) que foi realmente inovador organizando o receituário de ervas e óleos medicinais conhecido como Herbário, usado durante os 1500 anos seguintes pelos médicos.
O pioneiro na extração de óleo essencial de rosa por destilação foi Avicena (980 – 1037 d. C.), mas o método levou muitos anos para ser aperfeiçoado. Posteriormente, os doutores árabes e os alquimistas inventaram a serpentina com o objetivo de refrigerar os produtos destilados. Bem mais tarde, no século XV, óleos essenciais eram exportados como fragrâncias da Itália para toda a Europa, visando tanto a cosmética como a terapêutica.

Até os dias de hoje os óleos essenciais se mostram importantes e principalmente foram muito difundidos na produção dos perfumes. O fascínio exercido pelo perfume inspira poetas e artistas e deu origem a um best-seller com mais de 15 milhões de cópias vendidas no mundo todo. A obra do alemão Patrick Süskind, de 1985, narra a história do francês com olfato apuradíssimo, capaz a reconhecer cheiros a quilômetros de distância, ganhou uma versão para o cinema com o filme Perfume – A história de um assassino. Em flashback, o filme conta a história do aprendiz de perfumista Jean-Baptiste Grenouille que estava a ponto de ser guilhotinado, acusado se assassinar várias mulheres.


Autores: Caio César, Fernanda Arab, Loyná Flores e Florença Silvério


Bibliografia utilizada:

terça-feira, 19 de maio de 2015

A importância da mandioca na África

     A Mandioca é uma planta a muito utilizada como alimento pela humanidade. Atualmente é cultivada principalmente na África, Ásia e América Latina. Conhecida no meio acadêmico como Manihot esculenta, a mandioca é uma planta da família Euphorbiaceae, que é amplamente cultivada devido a sua capacidade de ser cultivada em solos pobres, já que, requer relativamente poucos insumos durante o seu crescimento. A mandioca é a segunda cultura com maior produção de alimento energético por área, depois de cana-de-açúcar. 
     Pode ser colhida em qualquer dia do ano e constitui o alimento básico para mais de 700 milhões de pessoas em pelo menos 105 países.
Com uma produção acima de 170 milhões de toneladas, a mandioca constitui uma das principais explorações agrícolas do mundo (Tabela 1). Entre as tuberosas, perde apenas para a batata. Nos trópicos, essa importância aumenta.
     Dentre os continentes, a África (53,32%) é o maior produtor mundial, seguido pela Ásia (28,08%), Américas (18,49%) e Oceania (0,11%). Quanto ao rendimento, medido em toneladas por hectare, destacam-se a Ásia (14,37 t/ha) e as Américas (12,22 t/ha), seguidas pela Oceania (11,57 t/ha) e África (8,46 t/ha) (Tabela 1).


Tabela 1. Área colhida, produção e rendimento da mandioca no mundo, por continente, em 2000.

Continentes
Área Colhida (ha)
Produção (t)
Rendimento (t/ha)
África
10.804.484
91.451.289
8,46
Ásia
3.351.119
48.163.007
14,37
Américas
2.596.719
31.719.755
12,22
Oceania
15.848
183.292
11,57
Mundo
16.768.170
171.517.343
10,23



    Fonte: FAO, 2001

    
A plantação da mandioca é de grande importância para o continente africano, haja vista que é a maior produtora no mundo dessa raiz. A produção é distribuída por vários países, com destaque para a Nigéria e a República Democrática do Congo que, juntos, contribuem com aproximadamente metade da produção do continente.
   Os principais problemas agrícolas da cultura na África são:
a) baixo nível tecnológico;
b) incidência de doenças, principalmente o mosaico africano;
c) ocorrência de pragas, como cochonilha, ácaros, gafanhoto, etc.
     Apesar dos revezes, a mandioca continua sendo uma preferência, já que pode ser mantida no solo durante um período de até dois anos e colhida quando necessária. Contudo, uma vez colhida, a mandioca fresca é altamente perecível, sendo imprópria  para ser vendida em mercados distantes. Há também uma elevada demanda por chips de mandioca, usados como alimentos para animais. Contudo, na média africana, cerca de 90% produção é destinada ao consumo humano e apenas 10% é processada como alimentos para animais.
    
Há algumas variedades amargas que apresentam teor de amido mais elevado, sendo mais adequadas  para a produção de amido de alto valor e maltose, ambos para uso industrial. Na África, as variedades amargas são muitas vezes preferidas pelos agricultores, já que resistem melhor às pragas.
     Em toda a África, as mulheres são as maiores responsáveis pela maior parte da colheita de mandioca e ainda como ajudam no processamento e no transporte. No entanto, como o processamento torna-se cada vez mais mecanizado, os homens tendem a assumir essas atividades.
    As folhas são consumidas como vegetais verdes e as raízes como alimento básico que também é transformada em diversos produtos, tais como gari, chikwangue, cascas, fufu, tapioca, etc. Ultimamente, cresce muito a produção de amido e de HQCF (“Farinha de Mandioca de Alta Qualidade”), principalmente nas pequenas fábricas da Nigéria que apesar de apresentarem um produto de alta qualidade e higiene, ainda produzem muito pouco. Trata-se de uma perfeita substituta para o amido de trigo e de milho, ambos importados, já que é bem mais barata
     Na Nigéria, a Iniciativa Presidencial para a Mandioca, iniciada em 2003, criou um mercado mais amplo para a farinha de mandioca, promovendo o uso de 10% de farinha de mandioca no pão à base de trigo. Isso levou ao aumento de 48% na produção de HQCF e de amido, levou também ao estabelecimento de mais de 500 centros de microprocessamentos e mais de 100 de processamento por pequenas e médias empresas.

Autores: Andersom Rosário Prado, Danilo Sasso Augusto, Gabriel José de Carlo, João Pedro Trevisan dos Santos, Vitor Antonelli Breda