terça-feira, 2 de junho de 2015

As cores naturais do Brasil

As tintas naturais parecem ter surgido por volta de 30.000 a 8.000 a.C, quando eram utilizadas nas pinturas pré-históricas em cavernas. São compostas por pigmentos e aglutinantes, apresentam opacidade ou transparência e podem ser produzidas a partir de terras coloridas, pó de rochas, materiais vegetais ou animais.
Por volta de 4.000 anos, alguns corantes já existiam, tais como o azul índigo ou anil (Indigofera tinctoria), o vermelho (Rubia tintorium), violeta (moluscos Murex trunculis e Murex brandaris), amarelo (Curcuma longa e Crocus sativus), azul ultramar (pedra lápiz lázuli). E, a partir do século XV, com a chegada dos europeus à América e à Índia, novos pigmentos foram descobertos, como o carmim (a partir do inseto cochonilha).

Nas sociedades indígenas brasileiras, a pintura corporal possui grande importância em diferentes aspectos, e essa prática é utilizada em vários contextos, como expressão de beleza, indicação de preparação para guerra ou como forma de aplacar a ira dos demônios. Também protege o corpo dos raios solares e de picadas de insetos. Além disso, possui um aspecto social de indicação de hierarquia: o padrão e o local da pintura revelam o status daquele indivíduo na sociedade. 
Arte indígena retratada em crianças.
Fonte: http://www.museudoindio.org.br/wp-content/uploads/2014/11/
indios_altamira_pintados_criancas.jpg
Os corantes naturais podem ser retirados de diversas partes da planta (folhas, flores, sementes, raízes). Como exemplo de planta nativa, o Pau-Brasil (Caesalpinia echinata), conhecido pelos tupis como ibirapitanga (“madeira ou árvore vermelha”), desde a colonização do Brasil, é considerado um produto de grande valor. O lenho da planta encerra o corante conhecido como brasilina, que ao ser extraído, passava a ser, por processos de auto-oxidação, a brasileína, o corante utilizado. Os colonizadores exploravam a planta e utilizavam o corante para tingir tecidos e fabricar tinta de escrever. Antes da descoberta do Brasil, na Idade Média, o corante já era conhecido e usado, originário de Caesalpinia sappan L. das Índias Orientais. De 1500 em diante, o Brasil apossou-se do mercado até saturá-lo.
O urucum (Bixa orellana), que significa “vermelho”, em tupi, é utilizado em recém-nascidos e em meninas (na chegada à puberdade), e outras ocasiões (casamentos, rituais antropofágicos e funerários, sacrifícios e cerimônias de exumação). Além disso, era considerado afrodisíaco e antídoto para veneno da mandioca. A tintura era feita com as sementes, cujo principal corante é o norcarotenóide bixina. A bixina é inócua e insípida, e bastante utilizada para colorir alimentos, como manteiga, queijo e massas. O urucum também é uma base para o corante denominado colorau. O fato de a bixina ser lipossolúvel permitiu aos indígenas preparar uma pasta do arilo vermelho, presente nas sementes, veiculado em óleo, fácil de esfregar na pele e que trouxe admiração aos primeiros europeus no Brasil, ao observar os costumes dos indígenas. Em sua carta ao rei D. Manoel I, Pero Vaz de Caminha dizia: "Traziam alguns deles ouriços verdes (se referia ao urucum), de árvores, que na cor, quase queriam parecer castanheiros; apenas eram mais e mais pequenos. E os mesmos eram cheios de grãos vermelhos, pequenos, que, esmagados entre os dedos, faziam tintura muito vermelha, da que eles andavam tintos; e quando se mais molhavam mais vermelhos ficavam". O urucum é colhido nos meses de maio e junho. As sementes são raladas em peneiras finas e fervidas em água para formar uma pasta. Com esta pasta são feitas bolas que são envolvidas em folhas, e guardadas durante todo o ano para as cerimônias de tatuagem. A tinta do urucum também é usada para tingir os cabelos, e na confecção de máscaras faciais.


Tabela 1. Relação de plantas nativas que podem ser utilizadas para a retirada de corantes, e a tonalidade do corante correspondente.
Plantas
Tonalidade do corante
Plantas
Tonalidade do corante
Jatobá (Hymenaea coubarilL)
Marrom alaranjado
Indigofera tinctoria, Fabaceae
Azul índigo ou anil

Carajuru ( Arrabidaea chica (HBK) Bur., Bignoneaceae)

Vermelho-escuro a vermelho-tijolo
Raiz-de-são-joão ou espinho de judeu (Berberis laurina Thunb, Berberidaceae)

Amarelado
Caroço de abacate (Persea sp. , Lauraceae)

Alaranjado
Jenipapo (Genipa americana L., Rubiaceae)

Preta
Folha de erva-mate ( Ilex paraguariensis A. St. - Hil, Aquifoleaceae)

Verde-musgo e cinza
Pau-brasil (Caesalpinia echinata - Leguminosae)

Avermelhado
Raiz de Açafrão-do-campo ou do mato (Escobedia curialis (Vell.) Penn., Scrophulariaceae.)

Amarelado
Sementes de Urucum (Bixa orellana, Bixaceae)

Avermelhado


Na tribo Xikrin, um subgrupo Kayapó, as mulheres pintam-se umas às outras e aos filhos com mistura de jenipapo (Genipa americana L., Rubiaceae) mascado, carvão e água. A seiva do fruto maduro e fresco do jenipapo produz tatuagens de cor preta, graças a um iridóide conhecido como genipina. A seiva é incolor em si, e produz a cor preta após reagir com proteínas da pele. Segundo relatos de Hans Staden sobre tupinambás no litoral de São Paulo, a pintura durava por, no mínimo, nove dias, mesmo quando eles se lavavam muitas vezes.
Naturalmente, quase todos os pigmentos de origem vegetal perderam hoje sua importância em face do emprego generalizado dos corantes sintéticos. Poucos conservam-se em uso para finalidades especiais. É o caso da hematoxilina, utilizada na coloração de preparados microscópicos e em certos casos no tingimento de tecidos; do tornassol e da cúrcuma, como indicadores nos laboratórios de química, e da última ainda para corar alimentos, ao lado da bixina, tirada do urucum.


Autores: Juliana Toshie Takata, Maiara Albanez Pereira, Rafaella Eduarda Volpi, Renan Lopes Rodrigues.


Bibliografia utilizada:
  • Behrens, Maria Dutra, Tellis, Carla J, Chagas, Maria do Socorro. Arrabidaea chica (Humb. & Bonpl.) B. Verlot (Bignoniaceae). Revista Fitos:7, nº4, 2012.
  • Bortolato, Ricardo. 2014. História e Técnica das Tintas Naturais Parte 01. Disponível em <http://permaculturabr.ning.com/group/biocasa/forum/topics/historia-e-tecnica-das-tintas-naturais-parte-01>. Acessado em maio de 2015.
  • Castro, Leonardo. Índios no Brasil: história, sociedade e cultura. Disponível em <http://novahistorianet.blogspot.com.br/2009/01/ndios-no-brasil-histria-sociedade-e.html e http://www.indioeduca.org/?p=1269> . Acessado maio de 2015.
  • Ferreira, Eber Lopes. Tingimento vegetal: teoria e prática sobre tingimentos com corantes naturais. Copyright Comissão Pró-Indio - SP. 1º edição.
  • Junqueira, N.T.V., et al. Frutíferas nativas do Cerrado: O extrativismo e a busca pela domesticação. XXII Congresso Brasileiro de Fruticultura. Bento Gonçalves - RS. 2012.
  • Picanço. Raimundo. 2012. Tintas naturais colorem artesanato na Amazônia. Disponível em <http://www.portalamazonia.com.br/editoria/meio-ambiente/tintas-naturais-colorem-artesanato-e-geram-renda-para-comunidades-no-am/>. Acessado     maio de 2015
  • Pinto, Angelo C. Corantes naturais e Culturas indígenas. Disponível em <http://www.i-flora.iq.ufrj.br/hist_interessantes/corantes.pdf>. Acessado em maio de 2015.
  • Rizzini, Carlos Toledo. Botânica econômica brasileira. 1976.



  

2 comentários:

  1. Discutindo entre o nosso grupo percebemos (mais uma vez) o quão pouco sabemos sobre a nossa própria história. Alguns de nós nunca tinham parado para pensar que os desenhos nos corpos dos índios seguem padrões e significam coisas diferentes. Isso sem contar o nosso desconhecimento geral sobre as tribos indígenas.
    Infelizmente, temos passado mais tempo aprendendo sobre história de outros países do que a nossa própria história. Claro, tem se a vantagem de não ser ignorante a respeito da história de outros países, mas o que será que é mais importante nós aprendermos? Não estamos falando apenas do índios. Será que se fizessemos uma pesquisa em uma escola brasileira e em uma americana e perguntassemos para os alunos quem foi o primeiro presidente dos respectivos países, onde nós teríamos um maior índice de acerto? (Para refletir...)

    Grupo 8: Vanessa, Rafael, Silvia e Marino.

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  2. Discutindo entre o nosso grupo percebemos (mais uma vez) o quão pouco sabemos sobre a nossa própria história. Alguns de nós nunca tinham parado para pensar que os desenhos nos corpos dos índios seguem padrões e significam coisas diferentes. Isso sem contar o nosso desconhecimento geral sobre as tribos indígenas.
    Infelizmente, temos passado mais tempo aprendendo sobre história de outros países do que a nossa própria história. Claro, tem se a vantagem de não ser ignorante a respeito da história de outros países, mas o que será que é mais importante nós aprendermos? Não estamos falando apenas do índios. Será que se fizessemos uma pesquisa em uma escola brasileira e em uma americana e perguntassemos para os alunos quem foi o primeiro presidente dos respectivos países, onde nós teríamos um maior índice de acerto? (Para refletir...)

    Grupo 8: Vanessa, Rafael, Silvia e Marino.

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