terça-feira, 26 de maio de 2015

O sabor da expansão marítima

Fonte desconhecida
Açafrão, baunilha, pimenta, orégano, canela, gengibre. Todas estas plantas são conhecidas na gastronomia como imprescindíveis, especialmente na hora de temperar. Especiarias são temperos e condimentos de origem vegetal que possuem sabor e aroma acentuados devido à presença de óleos essenciais - compostos hidrofóbicos e voláteis obtidos através de métodos de separação, podendo conter centenas de substâncias químicas. As especiarias possuem grande utilização na culinária, na preparação de óleos, cosméticos, incensos e medicamentos. Existem espécies consideradas como especiarias em todos os continentes, mas a partir do início das Cruzadas, os europeus desenvolveram um gosto pelo consumo de especiarias vindas da Ásia, o que levou a várias estratégias que permitiram o comércio destes produtos.

O comércio de especiarias existe desde a antiguidade, e teve um importante destaque no surgimento das Grandes Navegações, durante os séculos XV e XVI. A partir das Cruzadas na Idade Média houve um grande interesse no comércio de especiarias na Europa, devido ao seu uso na culinária e na medicina. Desenvolveu-se, em particular, o consumo de especiarias oriundas das regiões tropicais, principalmente do sul e sudeste asiático, uma vez que o clima da Europa não permitia o cultivo de muitas variedades. As mais procuradas nesta época eram a pimenta-do-reino, o cravo, a canela e a noz-moscada. Devido à dificuldade em obtê-las, as especiarias passaram a ser consideradas produtos de luxo. Era comum o seu uso para pagamento de impostos, dívidas, acordos e subornos.
Com o surgimento e crescimento da burguesia houve um aumento da demanda desses produtos. Para atender a essa demanda, ampliou-se o comércio entre o Ocidente e o Oriente através de várias rotas terrestres e marítimas, que uniam não apenas a Europa internamente, mas esta e a China e a Índia. No século XV, os comerciantes de Gênova e Veneza detinham o monopólio do comércio destas especiarias. Estas eram então levadas para Europa através da rota do Mar Mediterrâneo, dominada pelos comerciantes italianos. As especiarias eram compradas secas e tinham longa durabilidade e resistência a pragas, portanto suportavam meses de viagem sem perder sua qualidade aromática e medicinal.
Após a Tomada de Constantinopla, em 1453, o comércio de especiarias ficou mais difícil, uma vez que a rota dos mercadores cristãos foi bloqueada a partir do domínio turco. Foi nessa época que se iniciou o declínio do monopólio italiano. Para resolver o problema, os países ibéricos como Portugal e Espanha, procuraram uma rota alternativa para chegar às especiarias. Portugal explorou a rota oriental, contornando a África, e obteve muito sucesso, se tornando uma potência econômica da época. A Espanha, por sua vez, explorou a rota ocidental, e acabou chegando à América. Com a colonização do território americano, os europeus introduziram nessas regiões o plantio de especiarias, barateando o custo. Desta forma, o comércio de especiarias pode ser considerado como um dos grandes propulsores da expansão marítima e das grandes navegações.

Atualmente, as especiarias são ainda amplamente utilizadas na culinária como temperos, e nas últimas décadas descobriu-se que estes produtos podem conter propriedades medicinais, por exemplo, cumprindo a função de antibióticos, como é o caso do coentro, do cominho e do anis. Outra função que é atribuída a várias especiarias é a propriedade antioxidante, bem como a prevenção ao câncer no caso de certas espécies.  


Autores: Aline Maria Lucchetta, Enrico Cerioni Spiropulos Gonçalves e Rodrigo Guedes Hakime


Bibliografia utilizada:

·         Herbal Medicine: Biomolecular and Clinical Aspects. Caefer CM, Milner JA. 2nd Edition. Chapter 17: Herbs and Spices in Cancer Prevention and Treatment. 2011.
·         Bracht F, Conceição GC, Santos CFM. A América conquista o mundo: uma história da disseminação das especiarias americanas a partir das viagens marítimas do século XVI. Revista Brasileira de Pesquisa em Alimentos. 2011.
·         Singh G, Kapoor IPS, Pandey SK, Singh UK, Singh RK. Studies on essential oils: Part 10; Antibacterial activity of volatile oils of some spices. Phytotherapy Research. 2002.

Óleos essenciais, Cleópatra e a história de um assassino

Fonte: Google Imagens
Os óleos essenciais constituem os elementos voláteis contidos em vários órgãos das plantas e assim são denominados devido à natureza lipofílica que apresentam, sendo, entretanto, quimicamente diferentes da composição glicerídica dos verdadeiros óleos e gorduras. Estão associados a várias funções necessárias à sobrevivência do vegetal em seu ecossistema, exercendo papel fundamental na defesa contra microorganismos e predadores, e também na atração de insetos e outros agentes fecundadores. Em sua maioria, são constituídos de substâncias terpênicas e eventualmente de fenilpropanóides, acrescidos de moléculas menores, como álcoois, ésteres, aldeídos e cetonas de cadeia curta. O perfil terpênico apresenta normalmente substâncias com moléculas de dez e  quinze carbonos (monoterpenos e sesquiterpenos), mas, dependendo do método de extração e da composição da planta, terpenos menos voláteis podem aparecer na composição do óleo essencial. 
Na prática popular, os óleos essenciais possuem uma larga tradição de uso, desde a utilização para acentuar o aroma ou gosto dos alimentos até o uso como agentes medicinais, que é conhecido desde a remota antiguidade.
Há registros pictóricos de seis mil anos atrás, entre os egípcios, de práticas religiosas associadas à cura de males, às unções da realeza, e à busca de bem-estar físico, através dos aromas obtidos de partes específicas de certos vegetais, como resinas, folhas, flores, sementes, etc. O Egito parece ter sido o berço da destilação, com óleos essenciais usados como perfumes. Usavam os óleos no processo de embalsamento dos cadáveres, conheciam bem a cosmetologia e os tratamentos com ervas.  Os sacerdotes fabricavam pomadas e “ungentos” medicinais, tendo grande domínio das técnicas de extração dos compostos vegetais por destilação e infusão a quente, conheciam as propriedades terapêuticas de certas drogas e tinham noções básicas de farmacodinâmica. O óleo essencial de mirra, por exemplo, era usado como anti-inflamatório e as fraturas ósseas eram tratadas com misturas de plantas e óleos. Na tumba de Tutancâmon (1550 – 1295 a. C.) foram encontrados óleos aromáticos de cedro, coentro, mirra, olíbano e zimbro, em aromatizadores, bandagens e envasados em frascos. Cleópatra (69 – 30 a. C.) eternizou a arte da perfumaria sedutora. Usava um perfume especial feito com óleo essencial de flores de henna, açafrão, menta e zimbro.
Fonte: Google Imagens
Há relatos de que os indus na antiguidade já tinham conhecimento dos processos de extração dos óleos essenciais e dos produtos destilados. Provavelmente, faziam extratos alcóolicos e não óleos essenciais puros, empregados tanto como perfume quanto em cerimônias religiosas, além do uso terapêutico.
Os gregos teriam passado seu conhecimento sobre os óleos aromáticos aos romanos, que se tornariam grandes conhecedores de perfumes. Na Babilônia (1500 a. C.), o uso de óleos essenciais, principalmente cedro fazia parte da rotina de cuidados com a saúde. As tabuinhas babilônicas citam 250 ervas e óleos com propriedades medicinais que poderiam ser misturados na forma de cataplasma, infusões, inalações e linimentos.
As substâncias aromáticas também já eram populares nas antigas China e Índia, centenas de anos antes da era cristã, quando eram incorporados em incenso, poções e vários tipos de acessórios, usados diretamente sobre o corpo.
Hipócrates (460 a. C.) tornou-se o primeiro a considerar a massagem com óleos essenciais uma terapia, difundindo-a entre a comunidade científica. Teofrasto (372 – 287 a. C.) pode ser considerado pioneiro em suas pesquisas sobre óleos essenciais e seus efeitos. Entre seus trabalhos está o guia relativo aos odores em que analisa os efeitos distintos dos diversos aromas sobre o pensamento, os sentimentos e a saúde. Mas foi Pedânio Dioscórides (90 – 40 a. C.) que foi realmente inovador organizando o receituário de ervas e óleos medicinais conhecido como Herbário, usado durante os 1500 anos seguintes pelos médicos.
O pioneiro na extração de óleo essencial de rosa por destilação foi Avicena (980 – 1037 d. C.), mas o método levou muitos anos para ser aperfeiçoado. Posteriormente, os doutores árabes e os alquimistas inventaram a serpentina com o objetivo de refrigerar os produtos destilados. Bem mais tarde, no século XV, óleos essenciais eram exportados como fragrâncias da Itália para toda a Europa, visando tanto a cosmética como a terapêutica.

Até os dias de hoje os óleos essenciais se mostram importantes e principalmente foram muito difundidos na produção dos perfumes. O fascínio exercido pelo perfume inspira poetas e artistas e deu origem a um best-seller com mais de 15 milhões de cópias vendidas no mundo todo. A obra do alemão Patrick Süskind, de 1985, narra a história do francês com olfato apuradíssimo, capaz a reconhecer cheiros a quilômetros de distância, ganhou uma versão para o cinema com o filme Perfume – A história de um assassino. Em flashback, o filme conta a história do aprendiz de perfumista Jean-Baptiste Grenouille que estava a ponto de ser guilhotinado, acusado se assassinar várias mulheres.


Autores: Caio César, Fernanda Arab, Loyná Flores e Florença Silvério


Bibliografia utilizada: