A
cana-de-açúcar é uma monocotiledônea pertencente ao gênero Saccharum e há pelo menos seis espécies existentes do gênero, porém
o mais comumente cultivado é um híbrido multiespecífico que recebe o nome do Saccharum spp. Ele pertence à Família Poaceae, a mesma do milho, sorgo e
arroz. São plantas de metabolismo C4, muito influenciadas pelo clima e pelo
manejo, visto que na plantação comercial a propagação é assexuada e feita pelo
uso do colmo (caule) cortado com cerca de 30 centímetros. As espécies de
cana-de-açúcar são originárias do sudeste asiático e são a principal matéria
prima para a produção de açúcar e álcool. A espécie que deu origem ao cultivo
extensivo fora da Ásia é conhecido por Saccharum
officinarum.
Não
se pode afirmar quando o consumo de cana-de-açúcar começou, mas provavelmente
foi na Índia e levado por soldados do exército de Alexandre Magno na conquista
da Índia Oriental, onde os nativos bebiam o suco de cana fermentado, o chamando
de “mel sem abelhas”. Relata-se também que em 600 d.C. na Pérsia começou-se a
processar a cana de forma rudimentar para conseguir um tipo de açúcar que
poderia ser transportado sem fermentar, que posteriormente foi refinado pelo
Islã.
Já
o cultivo da cana-de-açúcar e a exploração do trabalho escravo datam do século
XIV, da ilha de Chipre, Creta e norte da África. A entrada do açúcar na
Península Ibérica estimulou o ressurgimento da escravidão e estes passaram seus
métodos de cultura para as suas colônias. Isso ocorreu devido à expansão
portuguesa pela costa ocidental da África à procura de ouro e especiarias,
originando o tráfico de escravos africanos. Para romper com o monopólio da
produção de açúcar exercido pelo Oriente Médio, os portugueses encontraram no
Brasil Colônia uma alternativa para ingressarem definitivamente nesse mercado e
estimularem seu crescimento econômico. O clima tropical e as boas condições do
solo pareciam ideais para o cultivo da cana-de-açúcar, planta originária do
Pacífico Sul e da Índia. Ainda hoje a cana-de-açúcar é muito importante pra
economia brasileira, não só para a produção de açúcar como a de álcool, o que
coloca o Brasil no mercado energético mundial, e movimenta cerca de R$40
bilhões ao ano.
Com o aumento do comércio de açúcar no século
XIV, relacionado ao consumo de chocolate, café e chá, o comércio pelo Mar
Mediterrâneo com intermédio de árabes e turcos ficou extremamente caro, o que
tornou o açúcar um artigo de luxo na Europa. Depois da queda de Constantinopla
ficou ainda mais difícil o comércio com o Oriente, o que incentivou as
navegações portuguesas, que o lhe deram o monopólio do comércio mundial. O
passo seguinte foi produzir aquilo que comercializava em suas colônias, que se
inicia no Brasil por volta de 1515 e 1520 com a chegada de Martim Afonso de
Souza na Vila de São Vicente, onde foi instalado o primeiro engenho de açúcar
brasileiro, que utilizava mão de obra da população nativa, mas com a expansão
das lavouras houve a transição para o trabalho africano. Portanto, o Brasil
colônia manteve o açúcar como principal atividade econômica, o que influenciou
as distinções jurídicas baseados nas hierarquias e raças. Sua importância
econômica se mostra no montante de suas importações, como no caso da Inglaterra
que em apenas 100 anos, entre 1700 e 1800, deixou de consumir 2
quilos/habitante/ano para 9 quilos/habitante/ano, totalizando 8 toneladas.
Tornando o Brasil, no início do século XVII, o maior produtor de açúcar do
mundo chegando a produzir 20.400 toneladas, depois entrando em queda com a
entrada das colônias espanholas e holandesas como produtoras de cana-de-açúcar.
Hoje
o setor sucroalcooleiro no Brasil é considerado de grande importância
econômica, com uma participação no PIB de 35% com mais de R$500 bilhões,
gerando cerca de 14% dos empregos no país. Por produzir esses empregos também
ajuda a diminuir os fluxos migratórios para os municípios, mesmo que gere
discussões, pois os empregos ficam condicionados à sazonalidade do ciclo da
cana. Hoje as industrias sucroalcooleiras se comprometeram a minimizar esses
efeitos, como também as diferenças sociais e a reduzir os impactos ambientais
(poluição do ar, degradação do solo e dos rios, etc.). Suas medidas são
contraditórias e geram discussões, como por exemplo a necessidade de não
queimar a palha da cana para diminuir a poluição do ar,o que gera a necessidade
da mecanização da colheita e que acaba dispensando milhares de trabalhadores
braçais que tem dificuldade de ser absorvidos em outras áreas do mercado de
trabalho. Além do que há alguns aspectos que afetam gravemente o trabalhador
além da sazonalidade: a informalidade, a oscilação de salários e a redução dos
mesmos com o enfraquecimento dos sindicatos, a exploração dos trabalhadores com
jornadas de trabalho excessivas, as condições severas do trabalho no campo,
entre outros.
Por
sua grande importância econômica, esse setor deve ser tomado com cuidado, pois
podem abalar todo o país economicamente. Problemas nas safras, hoje, não afetam
apenas o preço do açúcar mas principalmente dos combustíveis, já que grande
parte do álcool hoje comercializado no país vem da cana-de-açúcar, e causam
grande impacto na população e podem afetar não somente o bolso do brasileiro
como o estilo de vida da população de classes mais baixas.
Autores: Aline
Campelo Mendes, Ana Laura Furlan Blanco
Bibliografia utilizada:
- BRAIBANTE, M.E.F.; PAZINATO, M.S.; ROCHA, T.R.; FRIEDRICH, L.S.; NARDY, F.C. A cana-de-açucar no Brasil sob um olhar químico e histórico: uma abordagem interdisciplinar. Química nova na Escola, v.35, n.1, p 3-10, 2013.
- BRAGATO, I. R.; SIQUEIRA, E.S.; GRAZIANO, G.R; SPERS, E.S. Produção de açúcar e álcool vs. responsabilidade social corporativa: as ações desenvolvidas pelas usinas de cana-de-açúcar frente às externalidades negativas. Gest. Prod., São Carlos, v. 15, n. 1, p. 89-100, 2008.
- CARRETTA, D.B. Açúcar: seus efeitos sobre a sociedade sacarose dependente. 2006. 41f. Dissertação (Especialização em Saúde Coletiva) – Departamento de Odontologia - Universidade de Brasília, Faculdade de Ciências da Saúde. Nova Xavantiva, Mato Grosso. 2006.
- MAGRO, F. J.; TAKAO, G.; CAMARGO, P. E.; TAKAMATSU, S. Y. Biometria em cana-de-açúcar. Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo. 2011