terça-feira, 7 de abril de 2015

Aspectos sociais da produção de açúcar e álcool

A cana-de-açúcar é uma monocotiledônea pertencente ao gênero Saccharum e há pelo menos seis espécies existentes do gênero, porém o mais comumente cultivado é um híbrido multiespecífico que recebe o nome do Saccharum spp. Ele pertence à  Família Poaceae, a mesma do milho, sorgo e arroz. São plantas de metabolismo C4, muito influenciadas pelo clima e pelo manejo, visto que na plantação comercial a propagação é assexuada e feita pelo uso do colmo (caule) cortado com cerca de 30 centímetros. As espécies de cana-de-açúcar são originárias do sudeste asiático e são a principal matéria prima para a produção de açúcar e álcool. A espécie que deu origem ao cultivo extensivo fora da Ásia é conhecido por Saccharum officinarum.
Não se pode afirmar quando o consumo de cana-de-açúcar começou, mas provavelmente foi na Índia e levado por soldados do exército de Alexandre Magno na conquista da Índia Oriental, onde os nativos bebiam o suco de cana fermentado, o chamando de “mel sem abelhas”. Relata-se também que em 600 d.C. na Pérsia começou-se a processar a cana de forma rudimentar para conseguir um tipo de açúcar que poderia ser transportado sem fermentar, que posteriormente foi refinado pelo Islã.
Já o cultivo da cana-de-açúcar e a exploração do trabalho escravo datam do século XIV, da ilha de Chipre, Creta e norte da África. A entrada do açúcar na Península Ibérica estimulou o ressurgimento da escravidão e estes passaram seus métodos de cultura para as suas colônias. Isso ocorreu devido à expansão portuguesa pela costa ocidental da África à procura de ouro e especiarias, originando o tráfico de escravos africanos. Para romper com o monopólio da produção de açúcar exercido pelo Oriente Médio, os portugueses encontraram no Brasil Colônia uma alternativa para ingressarem definitivamente nesse mercado e estimularem seu crescimento econômico. O clima tropical e as boas condições do solo pareciam ideais para o cultivo da cana-de-açúcar, planta originária do Pacífico Sul e da Índia. Ainda hoje a cana-de-açúcar é muito importante pra economia brasileira, não só para a produção de açúcar como a de álcool, o que coloca o Brasil no mercado energético mundial, e movimenta cerca de R$40 bilhões ao ano.
 Com o aumento do comércio de açúcar no século XIV, relacionado ao consumo de chocolate, café e chá, o comércio pelo Mar Mediterrâneo com intermédio de árabes e turcos ficou extremamente caro, o que tornou o açúcar um artigo de luxo na Europa. Depois da queda de Constantinopla ficou ainda mais difícil o comércio com o Oriente, o que incentivou as navegações portuguesas, que o lhe deram o monopólio do comércio mundial. O passo seguinte foi produzir aquilo que comercializava em suas colônias, que se inicia no Brasil por volta de 1515 e 1520 com a chegada de Martim Afonso de Souza na Vila de São Vicente, onde foi instalado o primeiro engenho de açúcar brasileiro, que utilizava mão de obra da população nativa, mas com a expansão das lavouras houve a transição para o trabalho africano. Portanto, o Brasil colônia manteve o açúcar como principal atividade econômica, o que influenciou as distinções jurídicas baseados nas hierarquias e raças. Sua importância econômica se mostra no montante de suas importações, como no caso da Inglaterra que em apenas 100 anos, entre 1700 e 1800, deixou de consumir 2 quilos/habitante/ano para 9 quilos/habitante/ano, totalizando 8 toneladas. Tornando o Brasil, no início do século XVII, o maior produtor de açúcar do mundo chegando a produzir 20.400 toneladas, depois entrando em queda com a entrada das colônias espanholas e holandesas como produtoras de cana-de-açúcar.
Hoje o setor sucroalcooleiro no Brasil é considerado de grande importância econômica, com uma participação no PIB de 35% com mais de R$500 bilhões, gerando cerca de 14% dos empregos no país. Por produzir esses empregos também ajuda a diminuir os fluxos migratórios para os municípios, mesmo que gere discussões, pois os empregos ficam condicionados à sazonalidade do ciclo da cana. Hoje as industrias sucroalcooleiras se comprometeram a minimizar esses efeitos, como também as diferenças sociais e a reduzir os impactos ambientais (poluição do ar, degradação do solo e dos rios, etc.). Suas medidas são contraditórias e geram discussões, como por exemplo a necessidade de não queimar a palha da cana para diminuir a poluição do ar,o que gera a necessidade da mecanização da colheita e que acaba dispensando milhares de trabalhadores braçais que tem dificuldade de ser absorvidos em outras áreas do mercado de trabalho. Além do que há alguns aspectos que afetam gravemente o trabalhador além da sazonalidade: a informalidade, a oscilação de salários e a redução dos mesmos com o enfraquecimento dos sindicatos, a exploração dos trabalhadores com jornadas de trabalho excessivas, as condições severas do trabalho no campo, entre outros.

Por sua grande importância econômica, esse setor deve ser tomado com cuidado, pois podem abalar todo o país economicamente. Problemas nas safras, hoje, não afetam apenas o preço do açúcar mas principalmente dos combustíveis, já que grande parte do álcool hoje comercializado no país vem da cana-de-açúcar, e causam grande impacto na população e podem afetar não somente o bolso do brasileiro como o estilo de vida da população de classes mais baixas.


Autores: Aline Campelo Mendes, Ana Laura Furlan Blanco


Bibliografia utilizada:
  • BRAIBANTE, M.E.F.; PAZINATO, M.S.; ROCHA, T.R.; FRIEDRICH, L.S.; NARDY, F.C. A cana-de-açucar no Brasil sob um olhar químico e histórico: uma abordagem interdisciplinar. Química nova na Escola, v.35, n.1, p 3-10, 2013.
  • BRAGATO, I. R.; SIQUEIRA, E.S.; GRAZIANO, G.R; SPERS, E.S. Produção de açúcar e álcool vs. responsabilidade social corporativa: as ações desenvolvidas pelas usinas de cana-de-açúcar frente às externalidades negativas. Gest. Prod., São Carlos, v. 15, n. 1, p. 89-100, 2008.
  • CARRETTA, D.B. Açúcar: seus efeitos sobre a sociedade sacarose dependente. 2006. 41f. Dissertação (Especialização em Saúde Coletiva) – Departamento de Odontologia - Universidade de Brasília, Faculdade de Ciências da Saúde. Nova Xavantiva, Mato Grosso. 2006.
  • MAGRO, F. J.; TAKAO, G.; CAMARGO, P. E.; TAKAMATSU, S. Y. Biometria em cana-de-açúcar. Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo. 2011

Um comentário:

  1. Olá, achamos bem interessante o texto de vocês sobre essa temática, e realmente, com a diminuição da colheita manual de cana-de-açúcar, acaba caindo em um dilema entre as questões “ambientais” e “sociais”, por um lado a queimada traz muitos malefícios, além de ser necessário para a colheita manual, ao passo que afeta negativamente a vida da maioria dos trabalhadores, sendo então exceção quem consegue se beneficiar, por exemplo, tornando operador das máquinas que substituirão o trabalho manual, como cita em uma reportagem ¹. No entanto, a colheita manual também traz muitos malefícios à saúde do trabalhador, pelas condições de trabalho, pelas exigências físicas requeridas². Assim, gostaríamos de complementar com mais alguns dados sobre o assunto. Sabe-se que até 2017, no Estado de São Paulo, a colheita manual deve ser substituída por máquinas. Isso implica em áreas que terão que receber outro tipo de cultura, pois a colheita mecanizada torna-se menos viável em áreas com declividade superior a 12%, segundo EMBRAPA, mais de 3,6 mil quilômetros terão que ser repensados, ainda mais pelas implicações envolvidas na economia agrícola. Nesse contexto, um trabalho de pesquisa denominado “Impacto da mecanização da colheita da cana-de-açúcar nas áreas declivosas do Estado de São Paulo”, realizado pelo Grupo de Inteligência Territorial Estratégica da Embrapa (Gite) em parceria com o Departamento do Agronégocio (Deagro, Fiesp), que poderia servir de subsídio quanto a tomada de decisões para gestores públicos, proprietários de terras, empreendedores privados, entre outros, segundo Pesquisador do Gite, Evaristo de Miranda.
    ¹ http://economia.uol.com.br/…/boia-fria-da-lugar-a-operador-…
    ² http://oglobo.globo.com/econo…/o-fim-dos-boias-frias-9595711
    ³ ttps://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/2246448/sao-paulo-tera-369-mil-hectares-disponiveis-para-novos-plantios-ate-2017

    Grupo 6 : Juliana Toshie Takata, Maiara Albanez Pereira, Rafaella Volpi, Renan Lopes Rodrigues

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