terça-feira, 5 de maio de 2015

Plantas, superstições e crenças no Brasil

O conhecimento tradicional do uso e aplicação das plantas na saúde e em crenças populares é resultado do acúmulo de práticas adquiridas por determinada sociedade ao longo do tempo, com seus valores, crenças, descobertas e vivências.
No Brasil, o sincretismo religioso, como uma dessas práticas, é reflexo da influência dos povos europeus, africanos e indígenas, e é responsável por um rico legado de costumes ritualísticos utilizados ao longo da história. A herança étnica brasileira resulta da transmissão, geração após geração, de conselhos e práticas de magia, informações sobre o poder de ervas medicinais e saber de curandeiros e rezadores, estes frequentemente considerados conhecedores dos elementos indicados para cada necessidade e geralmente muito respeitados em sua comunidade.
Vaso 7 ervas
 http://www.jardimdasideias.com.br/707-aprenda
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Nas religiões de origem africana, as plantas estão presentes, em banhos de purificação, bebidas e comidas de rituais, remédios e cremações em incensórios. A utilização ritualística varia segundo as diferentes situações de caráter cerimonial, nas quais a planta recebe um valor simbólico. Nos rituais, os orixás determinam a cada planta os poderes mágicos e curativos que lhes cabem. O efeito causado pelas plantas está associado aos seus componentes alcalóides de ação psicoativa, que agem no sistema nervoso central, levando ao transe. Um exemplo é a Cola acuminata (Malvaceae), a noz-de-cola, que segundo os usuários, atua no “esclarecimento de ideias”, diminuição de sono e cansaço e aumento da fome.
Nos rituais de origem indígena, pode ser citado o uso de uma bebida amazônica psicoativa, a ayahuasca (em quíchua, “aya” = alma; “wasca” = cipó; “corda da alma”), que possui em sua composição a Banisteriopsis caapi (Malpighiaceae) e  Psychotria viridis (Rubiaceae), fervidas juntas durante muitas horas. Segundo as crenças indígenas, os xamãs que consomem bebidas à base dessas plantas o fazem para entrarem em comunicação com os espíritos, a fim de descobrir as causas das doenças e curá-las.
Outra bebida bastante conhecida e utilizada por povos indígenas é o vinho da Jurema (Mimosa hostilis (Fabaceae)), que também é consumido em cerimônias religiosas de influência africana. Os rituais são influenciados por ambas as tradições religiosas, principalmente no Nordeste. Segundo as crenças, os médiuns ingerem a bebida para chamar e incorporar entidades. Os efeitos dos alcalóides presentes na planta incluem alterações no humor, euforia, depressão, ansiedade, distorção da percepção temporal e espacial, despersonalização (efeitos semelhantes ao LSD). A despersonalização dos médiuns, provocada pela bebida, seria interpretada como a nova identidade assumida por esses durante o transe.
Algumas plantas também são largamente ligadas a crenças e superstições, sendo seu uso amplamente difundido via tradição oral e praticado em diversas regiões do Brasil e do mundo, por meio de diversos métodos, como banhos, defumadores, benzeduras e rezas, além do uso decorativo. Por exemplo, algumas plantas são popularmente conhecidas contra o “mau-olhado”, que, para alguns benzedores, seria quando “a pessoa está com a vista baixa, sonolenta e abrindo muito a boca”.  Por vezes, uma planta é utilizada para mais de um fim, e, outras vezes, diversas plantas são associadas para “aumentar ainda mais seus poderes e vibrações”, como o vaso 7 ervas, composto por arruda, guiné, alecrim, comigo-ninguém-pode, espada de São Jorge, manjericão e pimenteira.  

Abaixo, estão relacionadas algumas plantas mais comuns e seus fins em superstições populares:
·         Alecrim (Rosmarinus officinalis) - faz a energia circular, evitando o acúmulo de vibrações negativas.
     Alho (Allium cepa) -  afasta os maus espíritos de uma casa. No Oriente, é usado para trazer de volta as almas perdidas em cerimônias religiosas.
     Arruda (Ruta graveolens) - repele maus fluidos. Nas benzeções, o ramo de arruda é usado para aspergir água no benzido, purificando-o. Quando usadas para benzer, as folhas ficam murchas porque recebem o malefício que estava no doente. O banho com arruda combate todos os tipos de mau-olhado. Também é utilizada na umbanda, como erva para curar "maus fluídos, inveja, olho-grande".
     Camomila (Matricaria recutita) - simboliza prosperidade e afasta o “olho gordo”.
     Comigo-Ninguém-Pode (Dieffenbachia picta) - repele e anula energias negativas. Quando murcha, é porque absorveu as energias negativas, e deve ser jogada fora.
     Espada-de-São-Jorge (Sansevieria trifasciata) - devido a seu aspecto, foi associada ao poder de cortar vibrações negativas e todo tipo de magia.
     Guiné (Petiveria alliacea) - espanta maus espíritos, inveja e mau-olhado.
     Louro (Laurus nobilis) - folha guardada dentro da carteira atrai dinheiro.
     Manjericão (Ocimum basilicum) – afasta os maus pensamentos e azar.
     Pimenta (Capsicum sp.)- ao entrar em contato com energia ruim ou quando ambiente está "carregado", a pimenteira absorve e neutraliza a negatividade e seca completamente. Está associada ao poder de estimular a vitalidade, melhorar o astral e atrair boas energias para o amor.
     Sálvia (Salvia sp.)- poderosa erva de proteção, afasta mau-olhado. Erva das feiticeiras, entra na composição de magias de proteção.
     Trevo-de-quatro-folhas (Trifolium sp.)- Símbolo de boa sorte, além de atrair prosperidade e felicidade. Sua raridade o transformou em um poderoso amuleto.


Autores: Juliana Toshie Takata, Maiara Albanez Pereira, Rafaella Eduarda Volpi, Renan Lopes Rodrigues.


Bibliografia utilizada:





Um comentário:

  1. Muito interessante o texto!

    Vocês falaram bastante sobre as ervas consideradas medicinais e seus diversos usos em algumas culturas e as explicações religiosas a ela atribuidas.
    O que é interessante é ver que as plantas tóxicas também recebiam esse tipo de atribuição social e religiosa, mas de uma maneira mais negativa.
    A erva beladona (Atropa belladona) é conhecida por inibir o sistema acetilcolina do organismo, provocando, por exemplo, dilatações nas pupilas e alucinações. Na Idade Média, ela era conhecida como ervas de feitiçaria e bruxaria devido aos efeitos alucinógenos, mas também era altamente procurado por donzelas na época para pingar ungentos das folhas dessa erva nos olhos para aumentarem seus olhos, deixando-as mais belas de acordo com o padrão de beleza da época, dando à erva seu nome (Bela dona).

    Grupo 8 - Aline Campelo Mendes, Ana Laura Furlan Blanco
    Fonte: MARTINEZ, S.T.; ALMEIDA, M.R.; PINTO, A.C. Alucinógenos naturais: um vôo da Europa Medieval ao Brasil. Química Nova, v.32, p 2501-2507, 2009.

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