terça-feira, 12 de maio de 2015

Medicina popular: benefícios e precauções

O uso e o conhecimento de plantas como medicamentos é uma atividade muito antiga, antecedendo a história humana escrita, e simboliza, em muitos casos, o único recurso terapêutico de muitas comunidades e grupos étnicos atuais. Ao lado da domesticação e da agricultura, ocorreu a descoberta dos benefícios terapêuticos de algumas plantas, sendo que muitas das ervas e temperos usados ​​na alimentação, também são usados como compostos medicinais contra patógenos e infecções. Ao longo da história, observa-se o conhecimento progressivamente adquirido em relação às dosagens específicas para cada droga e ampliação da fabricação e administração dos remédios.
As angiospermas ainda são a fonte da maioria das plantas medicinais. Muitas das ervas daninhas comumente encontradas, como a urtiga e o dente-de-leão, apresentam propriedades medicinais. Pelo menos 12.000 compostos foram isolados até hoje, número estimado em menos de 10% do total. De acordo com a legislação brasileira, as plantas medicinais podem ser comercializadas em farmácias e herbanários, sendo que quando são processadas industrialmente, tornam-se fitoterápicos. Esse processo industrial, teoricamente, evita contaminações e padroniza a quantidade e a forma de utilização das plantas.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) cerca de 80% da população mundial fez uso de algum tipo de erva no intuito de aliviar alguma sintomatologia dolorosa ou desagradável. Dessa porcentagem, 30% ocorreu por recomendação médica. No caso do Brasil, as principais plantas da medicina popular são as popularmente conhecidas como arruda, alecrim, babosa, bardana, boldo, catinga-de-mulata, capim-limão, carqueja, cavalinha e quebra-pedra.
Plantas medicinais comumente usadas. 
Disponível em: < http://mundoestranho.abril.com.br/materia/quais-sao-as-plantas-medicinais-mais-utilizadas>.
Dessa forma, “medicina popular” se refere ao uso de plantas para o tratamento de doenças e infecções, bem como na prevenção e redução dos efeitos dessas. Mesmo não sendo um termo usado com frequência, você provavelmente já se deparou com alguns de seus exemplares. É muito comum que, quando alguém está com dor no fígado ou estômago, escute a recomendação para “tomar” chá de boldo. Além do mais, é normal ouvir que plantas naturais fazem muito bem a saúde, e que podem ser utilizadas na cura de inúmeras doenças. Certo? Nem sempre! Primeiramente, é importante ressaltar que muitos compostos utilizados para a fabricação de medicamentos são retirados de plantas. Entretanto, embora haja uma generalização desse conceito, existe uma variedade de plantas medicinais que, dentre outras propriedades prejudiciais ao organismo humano, são providas de alto teor de toxicidade. Dessa forma, é importante buscar informações com profissionais da saúde e ter um cuidado maior quando gestantes, lactantes, crianças e idosos forem utilizar esses produtos.
Outro aspecto resultante da defasagem desse conceito é subestimar as propriedades medicinais das plantas, fazendo uso delas de forma aleatória. Assim, é importante salientar que substâncias alimentícias, tóxicas e medicamentosas diferem apenas em relação à dose, a via de administração e a finalidade com que são empregadas. O chá de boldo, por exemplo, em pequenas doses pode aliviar dores no fígado e do aparelho digestório, porém, em grandes quantias, pode atuar como um poderoso analgésico capaz de mascarar sintomas de uma enfermidade grave, podendo causar irritação gástrica e até abortos (FRANÇA et. al, 2008).
Além disso, uma dúvida que fica é: como fazer para usar as plantas corretas? Ou seja, como identificá-las corretamente para evitar possíveis toxinas? No caso do “boldo” trata-se de uma espécie, um grupo ou só de plantas parecidas? No Brasil, há três espécies de “boldo”: boldo do Chile (Peumus boldus), falso boldo (Plectranthus barbatus) e boldo baiano (Vernonia condensata). As duas primeiras espécies podem causar efeitos colaterais em humanos, trazendo a tona outro problema: um mesmo nome popular pode incluir várias espécies botânicas, ou uma mesma espécie pode apresentar várias denominações populares. Sendo assim, é muito importante verificar qual espécie de planta está sendo usada (MAURO et. al, 2008).


Chá de boldo: produto bastante utilizado na medicina popular,
 principalmente contra problemas do trato digestivo.

Disponível em: <
http://www.bolsademulher.com/sites/
www.bolsademulher.com/files/medicina-alternativa/beneficios-cha-de-boldo1.jpg>.
Por ultimo, mas não menos importante, as plantas medicinais podem reagir com medicações alopáticas e prejudicar a saúde do individuo. Por exemplo, por serem produtos xenobióticos, isto é, substâncias estranhas ao sistema biológico, os fitoterápicos empregados no período pré-operatório podem afetar o ato anestésico ao interagir com os agentes anestésicos.
Dessa maneira, é essencial o acesso seguro e o uso racional de plantas medicinais. Para isso, é preciso ter as informações necessárias sobre o uso, a origem, a identificação e o modo de preparo correto dessas plantas. Assim, órgãos, como a Sociedade brasileira de Plantas Medicinais, têm como objetivos possibilitar, facilitar e estimular o aprimoramento científico e tecnológico na área de Plantas Medicinais nativas ou cultivadas. Nada impede um indivíduo de utilizar folhas que tenha no quintal de casa e fazer um chá para aliviar certos sintomas. Todavia, com a grande diversidade vegetal e cultural do Brasil, alguns cuidados devem ser tomados, sendo que a regulamentação e os incentivos à pesquisa podem abrir diversos caminhos neste vasto território, de modo a propiciar que a população faça uso desses recursos naturais com maior eficácia e segurança.

  

Autores: Marino da Motta Nanzer, Rafael Farina, Silvia Sayuri Mandai e Vanessa Thomé.


  
Bibliografia utilizada: 
  

3 comentários:

  1. Adoramos o texto! Acreditamos nos benefícios do uso de fitoterápicos e achamos crucial a correta orientação e informação a população. Como por exemplo, muitas plantas que acreditamos ter no jardim de casa, muitas vezes não são aquela espécie de planta propriamente dita, podendo não ter os efeitos esperados, podendo ser até mesmo tóxico para quem faz uso contínuo, como é o caso do boldo. Além disso, sabemos que muitos componentes de plantas podem reagir com princípios ativos de remédios, o que é perigoso para os usuários. Sendo assim, gostaríamos de ressaltar a importância do acompanhamento e orientação por parte dos médicos e farmacêuticos quanto ao uso de plantas medicinais, para que haja total aproveitamento de seus benefícios.

    Parabéns pela abordagem do tema!
    Cordialmente,
    Grupo 1: Carla Kuhl, Elis Regina Mesquita, Isabela Gerdes Gyuricza, José Ikeda Neto e Marcela Oliveira.

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  2. Excelente texto! Gostamos muito da maneira bastante didática e simples que o texto foi elaborado, deixando claro para qualquer tipo de leitor que queira entender sobre o assunto e desmistificar a ideia de que tudo que é "natural" é saudável e seguro para o consumo humano, seja para uso oral ou uso externo, como em compressas.

    Por isso foi muito importante vocês terem ressaltado a importância dos farmacêuticos (estudo dos compostos presentes nas plantas e seus efeitos fisiológicos) e dos médicos (efeitos do uso de certos compostos aliados a outros, como remédios industrializados) e de outros profissionais da saúde para informar pessoas leigas sobre os perigos do uso aleatório de substâncias advindas de plantas.

    Parabéns pelo texto!!
    Atenciosamente,
    Grupo 8: Aline Campelo Mendes e Ana Laura Furlan Blanco

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  3. Em uma pesquisa realizada no município de Quissamã (RJ) eles encontraram 91 espécies (48 famílias) e das quais 25 não tinha suas atividades biológicas comprovadas cientificamente. Esse município conta com uma população variada composta por descendentes de escravos e índios Goitacazes, trabalhadores rurais (lavoura açucareira), diversidade religiosa (católico, evangélico, espírita e umbandista) e abriga a maior parte do Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba (PNRJ). A maioria dos informantes apresentavam 50 anos ou mais e o uso que fazem das plantas conferiam com as atividades biológicas descritas em literatura, ressaltando a importância do conhecimento tradicional e popular.
    Outro trabalho confere importância às plantas medicinais encontradas no cerrado, uma vez que algumas plantas endêmicas (Anemopaegma arvense, Mandevilla illustris e Mandevilla velutina) apresentam propriedades terapêuticas e têm sido utilizadas indiscriminadamente pela população e indústria farmacêutica, colocando as espécies em risco de extinção

    http://www.fzb.rs.gov.br/upload/20140328114019ih63_2_p263_278.pdf
    http://repositorio.unesp.br/handle/11449/103260

    Grupo 6

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