O uso e o conhecimento
de plantas como medicamentos é uma atividade muito antiga, antecedendo a
história humana escrita, e simboliza, em muitos casos, o único recurso
terapêutico de muitas comunidades e grupos étnicos atuais. Ao lado da
domesticação e da agricultura, ocorreu a descoberta dos benefícios terapêuticos
de algumas plantas, sendo que muitas das ervas e temperos usados na alimentação, também são
usados como compostos medicinais contra patógenos e infecções. Ao longo da
história, observa-se o conhecimento progressivamente adquirido em relação às
dosagens específicas para cada droga e ampliação da fabricação e administração
dos remédios.
As
angiospermas ainda são a fonte da maioria das plantas medicinais. Muitas das
ervas daninhas comumente encontradas, como a urtiga e o dente-de-leão, apresentam propriedades
medicinais. Pelo menos 12.000 compostos foram isolados até hoje, número
estimado em menos de 10% do total. De acordo com a legislação brasileira, as
plantas medicinais podem ser comercializadas em farmácias e herbanários, sendo
que quando são processadas industrialmente, tornam-se fitoterápicos. Esse
processo industrial, teoricamente, evita contaminações e padroniza a quantidade
e a forma de utilização das plantas.
Segundo a
Organização Mundial de Saúde (OMS) cerca de 80% da população mundial fez uso de
algum tipo de erva no intuito de aliviar alguma sintomatologia dolorosa ou
desagradável. Dessa porcentagem, 30% ocorreu por recomendação médica. No caso
do Brasil, as principais plantas da medicina popular são as popularmente
conhecidas como arruda, alecrim, babosa, bardana, boldo, catinga-de-mulata,
capim-limão, carqueja, cavalinha e quebra-pedra.
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Plantas
medicinais comumente usadas.
Disponível em: <
http://mundoestranho.abril.com.br/materia/quais-sao-as-plantas-medicinais-mais-utilizadas>.
Dessa forma,
“medicina popular” se refere ao uso de plantas para o tratamento de doenças e infecções,
bem como na prevenção e redução dos efeitos dessas. Mesmo não sendo um termo
usado com frequência, você provavelmente já se deparou com alguns de seus
exemplares. É muito comum que, quando alguém está com dor no fígado ou estômago,
escute a recomendação para “tomar” chá de boldo. Além do mais, é normal ouvir
que plantas naturais fazem muito bem a saúde, e que podem ser utilizadas na
cura de inúmeras doenças. Certo? Nem sempre! Primeiramente, é importante
ressaltar que muitos compostos utilizados para a fabricação de medicamentos são
retirados de plantas. Entretanto, embora haja uma generalização desse conceito,
existe uma variedade de plantas medicinais que, dentre outras propriedades
prejudiciais ao organismo humano, são providas de alto teor de toxicidade.
Dessa forma, é importante buscar informações com profissionais da saúde e ter
um cuidado maior quando gestantes, lactantes, crianças e idosos forem utilizar
esses produtos.
Outro
aspecto resultante da defasagem desse conceito é subestimar as propriedades
medicinais das plantas, fazendo uso delas de forma aleatória. Assim, é
importante salientar que substâncias alimentícias, tóxicas e medicamentosas
diferem apenas em relação à dose, a via de administração e a finalidade com que
são empregadas. O chá de boldo, por exemplo, em pequenas doses pode aliviar
dores no fígado e do aparelho digestório, porém, em grandes quantias, pode
atuar como um poderoso analgésico capaz de mascarar sintomas de uma enfermidade
grave, podendo causar irritação gástrica e até abortos (FRANÇA et. al, 2008).
Além disso,
uma dúvida que fica é: como fazer para usar as plantas corretas? Ou seja, como
identificá-las corretamente para evitar possíveis toxinas? No caso do “boldo”
trata-se de uma espécie, um grupo ou só de plantas parecidas? No Brasil, há
três espécies de “boldo”: boldo do Chile (Peumus
boldus), falso boldo (Plectranthus
barbatus) e boldo baiano (Vernonia
condensata). As duas primeiras espécies podem causar efeitos colaterais em
humanos, trazendo a tona outro problema: um mesmo nome popular pode incluir
várias espécies botânicas, ou uma mesma espécie pode apresentar várias
denominações populares. Sendo assim, é muito importante verificar qual espécie
de planta está sendo usada (MAURO et. al, 2008).
Por ultimo,
mas não menos importante, as plantas medicinais podem reagir com medicações
alopáticas e prejudicar a saúde do individuo. Por exemplo, por serem produtos
xenobióticos, isto é, substâncias estranhas ao sistema biológico, os
fitoterápicos empregados no período pré-operatório podem afetar o ato
anestésico ao interagir com os agentes anestésicos.
Dessa maneira, é essencial o acesso seguro e o uso
racional de plantas medicinais. Para isso, é preciso ter as informações
necessárias sobre o uso, a origem, a identificação e o modo de preparo correto
dessas plantas. Assim, órgãos, como a Sociedade brasileira de Plantas
Medicinais, têm como objetivos possibilitar, facilitar e estimular o
aprimoramento científico e tecnológico na área de Plantas Medicinais nativas ou
cultivadas. Nada impede um indivíduo de utilizar folhas que tenha no quintal de
casa e fazer um chá para aliviar certos sintomas. Todavia, com a grande diversidade
vegetal e cultural do Brasil, alguns cuidados devem ser tomados, sendo que a
regulamentação e os incentivos à pesquisa podem abrir diversos caminhos neste
vasto território, de modo a propiciar que a população faça uso desses recursos
naturais com maior eficácia e segurança.
Autores: Marino da Motta Nanzer, Rafael Farina, Silvia
Sayuri Mandai e Vanessa Thomé.
Bibliografia utilizada:
- As principais plantas medicinais brasileiras. Saúde melhor. Disponível em: < http://www.saudemelhor.com/principais-plantas-medicinais-brasileiras/>. Acessado em: 10 de maio de 2015.
- BARRACA, Sérgio Antonio. Relatório do Estágio Supervisionado Produção Vegetal II: manejo e produção de plantas medicinais e aromáticas. Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz. Universidade de São Paulo. Piracicaba, Julho de 1999.
- Boldo-de-jardim. Wikipédia, a enciclopédia livre. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Boldo-de-jardim>. Acessado em: 10 de maio de 2015.
- FINKLER, Petrucia. Cuidados ao usar plantas medicinais. Guia de Plantas medicinais. Disponível em: <http://saude.ig.com.br/bemestar/guiaplantasmedicinais/cuidados-ao-usar-plantas-medicinais/n1597686810255.html>. Acessado em: 10 de maio de 2015.
- FINKLER, Petrucia. Essa planta é boa para quê? Guia de Plantas medicinais. Disponível em: <http://saude.ig.com.br/bemestar/guiaplantasmedicinais/essa-planta-e-boa-para-que/n1597686435223.html>. Acessado em: 10 de maio de 2015.
- FRANÇA, I. S. X. et al. 2008. Medicina popular: benefícios e malefícios das plantas medicinais. Revista Brasileira Enfermagem, vol.61 no.2. Brasília. 2008.
- Fundação Joaquim Nabuco. 2003. Medicina Popular. Disponível em: <http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/index.php?option=com_content&view=article&id=732:medicina-popular&catid=48:letra-m&Itemid=192>. Acessado em: 11 de maio 2015.
- MACIEL, Maria Aparecida M., PINTO, Angelo C. & VEIGA, Valdir F. Plantas medicinais: a necessidade de estudos multidisciplinares. Química Nova, Vol. 25, No. 3, 429-438, 2002.
- MAURO, C. et al. 2008. Estudo anatômico comparado de órgãos vegetativos de boldo miúdo, Plectranthus ornatus Codd. e malvariço, Plectranthus amboinicus (Lour.) Spreng. – Lamiaceae. Revista Brasileira Enfermagem, 61(2): 201-8. Brasília. 2008.
- Prefeitura promove curso de Plantas Medicinais, Aromáticas e Condimentares. Prefeitura de Pinhais. Disponível em: <http://www.pinhais.pr.gov.br/News7content9714.shtml>. Acessado em: 10 de maio de 2015.
- RAFAELA, Agnes. Chá de boldo – Quais seus benefícios? Chá Benefícios. Disponível em: < http://chabeneficios.com.br/cha-de-boldo-quais-seus-beneficios/>. Acessado em: 10 de maio de 2015.
- Sobre a Sociedade Brasileira de Plantas Medicinais. Disponível em: <http://www.sbpmed.org.br/>. Acessado em: 10 de maio de 2015.
Adoramos o texto! Acreditamos nos benefícios do uso de fitoterápicos e achamos crucial a correta orientação e informação a população. Como por exemplo, muitas plantas que acreditamos ter no jardim de casa, muitas vezes não são aquela espécie de planta propriamente dita, podendo não ter os efeitos esperados, podendo ser até mesmo tóxico para quem faz uso contínuo, como é o caso do boldo. Além disso, sabemos que muitos componentes de plantas podem reagir com princípios ativos de remédios, o que é perigoso para os usuários. Sendo assim, gostaríamos de ressaltar a importância do acompanhamento e orientação por parte dos médicos e farmacêuticos quanto ao uso de plantas medicinais, para que haja total aproveitamento de seus benefícios.
ResponderExcluirParabéns pela abordagem do tema!
Cordialmente,
Grupo 1: Carla Kuhl, Elis Regina Mesquita, Isabela Gerdes Gyuricza, José Ikeda Neto e Marcela Oliveira.
Excelente texto! Gostamos muito da maneira bastante didática e simples que o texto foi elaborado, deixando claro para qualquer tipo de leitor que queira entender sobre o assunto e desmistificar a ideia de que tudo que é "natural" é saudável e seguro para o consumo humano, seja para uso oral ou uso externo, como em compressas.
ResponderExcluirPor isso foi muito importante vocês terem ressaltado a importância dos farmacêuticos (estudo dos compostos presentes nas plantas e seus efeitos fisiológicos) e dos médicos (efeitos do uso de certos compostos aliados a outros, como remédios industrializados) e de outros profissionais da saúde para informar pessoas leigas sobre os perigos do uso aleatório de substâncias advindas de plantas.
Parabéns pelo texto!!
Atenciosamente,
Grupo 8: Aline Campelo Mendes e Ana Laura Furlan Blanco
Em uma pesquisa realizada no município de Quissamã (RJ) eles encontraram 91 espécies (48 famílias) e das quais 25 não tinha suas atividades biológicas comprovadas cientificamente. Esse município conta com uma população variada composta por descendentes de escravos e índios Goitacazes, trabalhadores rurais (lavoura açucareira), diversidade religiosa (católico, evangélico, espírita e umbandista) e abriga a maior parte do Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba (PNRJ). A maioria dos informantes apresentavam 50 anos ou mais e o uso que fazem das plantas conferiam com as atividades biológicas descritas em literatura, ressaltando a importância do conhecimento tradicional e popular.
ResponderExcluirOutro trabalho confere importância às plantas medicinais encontradas no cerrado, uma vez que algumas plantas endêmicas (Anemopaegma arvense, Mandevilla illustris e Mandevilla velutina) apresentam propriedades terapêuticas e têm sido utilizadas indiscriminadamente pela população e indústria farmacêutica, colocando as espécies em risco de extinção
http://www.fzb.rs.gov.br/upload/20140328114019ih63_2_p263_278.pdf
http://repositorio.unesp.br/handle/11449/103260
Grupo 6